sexta-feira, 17 de setembro de 2010

De longe, o que o Senhor vê em nós? De perto, o que Ele encontra?


Há uma estreita ligação entre o que Jesus fez com a figueira e o que fez com os vendilhões do templo. As duas histórias aparecem juntas no Evangelho segundo Marcos (11.12-19). No primeiro caso, Jesus secou a figueira porque de longe ela aparentava ter frutos e não os tinha. No segundo caso, Ele expulsou os vendilhões porque o templo deveria ser casa de oração para todos os povos e não o era.

Um dos piores inimigos da fé evangélica é o processo de mercantilização da fé com todos os seus derivados. Esse processo cresce e está vigoroso em nosso meio. No entanto isso só produz folhas e não frutos. O Senhor virá procurar por frutos e só encontrará folhas. Esta figueira será e já está julgada!

Uma espiritualidade que faz pouco caso da revelação contida nas Escrituras acaba se tornando uma capa religiosa para um sistema que transforma a casa de oração para todos os povos em covil de ladrões!

Estamos diante de uma realidade na qual as aparências enganam. O que parece frondoso à distância, pode se mostrar enganoso de perto. O templo que parecia ativo em sua função de ser o lugar onde o nome de Deus era invocado revelou-se em uma aberração espiritual e moral.

Vamos nos perguntar: De longe o que o Senhor Jesus vê em nós? De perto, o que Ele encontra?

À medida que esta entidade “mercado”, com seus valores e paradigmas, aperfeiçoa seu funcionamento e sofistica sua capacidade de formar paradigmas, ela estende seus tentáculos sobre cada esfera da vida humana, inclusive sobre nós, na igreja. O que nos deixa perplexos é a nossa incapacidade de discernir esse processo. É como a rã na chaleira, que vai se adaptando à temperatura da água sem perceber que corre o risco de explodir com a intensidade do calor. Assim, a igreja brasileira está absorvendo valores e objetivos que ameaçam sua obediência a Cristo. Isso está nos levando a um ajuste tão fino com a realidade circundante, que a diferença entre mundo e igreja se torna apenas retórica. O resultado é que estamos trazendo para o “templo” um sistema idolátrico com cara de piedade evangélica. Este é o mal mais terrível — o mal com cara de bem.

Até quando, como igreja, vamos dar boas-vindas, de forma acrítica, a toda e qualquer novidade que bate à nossa porta pelo simples fato de ser mais uma novidade? Até que ponto o mercado se tornou o eixo da espiritualidade evangélica? Será que também estamos dando um rosto de piedade àquilo que ofende a santidade de nosso Deus?



Ziel Machado, casado, três filhos, foi secretário nacional da Aliança Bíblica Universitária do Brasil (ABUB) por 12 anos e atualmente é secretário regional do movimento para a América Latina. É historiador e membro da equipe pastoral da Igreja Metodista Livre – Concílio Nikei, em São Paulo. ziel@uol.com.b

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